
Caso Jeff Machado: mãe do ator fala sobre depoimento prestado ao Poder Judiciário, no Rio de Janeiro
A Justiça do Rio começou a ouvir na última sexta-feira, 27, as testemunhas de acusação do processo sobre a morte do ator Jefferson Machado, ocorrida no dia 23 de janeiro deste ano. Na audiência, foram ouvidas o inspetor da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, Igor Rodrigues Bello, a mãe e o irmão do ator, Maria das Dores Estevam e Diego Machado Costa.
Em razão da quantidade de testemunhas requeridas para prestar depoimento, o juízo da 1ª Vara Criminal da Capital carioca, designou o próximo dia 11 de dezembro, a partir das 13h, para continuação da audiência.
Em entrevista à Rádio Araranguá, no programa Dia a Dia, apresentado por Saulo Machado, a mãe do ator, relatou como foi sua ida à capital carioca. “Fiz um depoimento de três horas. Falei tudo que havia em minha mente e coração. Pedi para que o Bruno e o Jeander (Acusados pelo crime), não estivessem presentes, mas estavam no mesmo local, em uma sala. Em um determinado momento, depois de ser entrevistada pela promotora, notei que todos que estavam no local choravam. No tempo em que trabalharam lá, me disseram que nunca presenciaram um depoimento com tanta emoção”.
Apesar da dor ser imensa, dona Maria atribui o corpo do filho ter sido encontrado, a uma graça recebida. “Muitas pessoas falam, ‘Nossa Doris, como você é forte’, eu não sei se sou forte, mas preciso ser. Não poderia enviar outra pessoa para o Rio de Janeiro para dar o depoimento, eu tinha que ir. Tenho muita fé em Deus, porque da forma que o corpo do Jeff foi encontrado, só poderia ser uma graça”.
Além disso, a mãe ressalta que o afeto e as orações das pessoas vem sendo um apoio essencial nesse momento. “O carinho e as orações das pessoas, confortam nesse momento. Ontem no cemitério, na capela da minha família, recebi pessoas vindo de São Paulo, que também demonstraram carinho. É uma dor muito grande”.
Audiência caso Jeff Machado
O primeiro a depor foi o inspetor da Delegacia de Descoberta de Paradeiros Igor Rodrigues Bello, responsável pelas investigações que resultaram na prisão dos réus Bruno de Souza Rodrigues e Jeander Vinícius da Silva Braga. O inspetor disse ter certeza de que o crime foi premeditado.
Em seu depoimento, que durou cerca de quatro horas, o policial contou todas as etapas da investigação, que começou como um caso de desaparecimento. O ponto de virada foi o depoimento de um taxi dog que foi contratado para levar os oito cachorros de Jeff para um centro de umbanda desativado. Ao depor na polícia, o taxista afirmou que no dia 31 de janeiro, Jeff – que na verdade já estava morto – fez contato com ele através do WhatsApp, mas quem apareceu para acompanhá-lo no transporte dos cães foi Bruno. O taxi dog procurou espontaneamente a polícia, após ver postagens nas redes sociais sobre cachorros da mesma raça que estavam perambulando pela Zona Oeste do Rio. A investigação concluiu que Bruno se passou por Jeff não apenas nessa, mas em diversas ocasiões após o crime.
A premeditação, de acordo com o inspetor, ficou demonstrada por dois fatos: no final de 2022, Bruno começou a visitar revendedores de veículos na Zona Oeste, dizendo que levaria o carro de um amigo para vender. Ele teria voltado após a morte de Jeff, porém não conseguiu vender o carro do ator, do qual ele possuía as chaves, por não ter encontrado os documentos do veículo.
O outro fato foi a compra da casa onde o corpo de Jeff foi encontrado realizada meses antes do crime. Os réus fizeram uma obra nesta casa, levantando um muro, ocasião em que teriam feito também o buraco onde enterraram o baú contendo o corpo.
Durante toda a investigação, Bruno manteve a história, tanto para a família do ator quanto para a polícia, de que Jeff Machado havia conseguido uma chance de trabalho em São Paulo, e por isso, havia deixado sua casa e seu carro, para que ele os vendesse e seus cachorros, para que ele tomasse conta.
Segunda a prestar depoimento, Maria das Dores, mãe de Jefferson, falou sem a presença dos acusados. Ela contou sobre sua relação próxima com o filho, relatando que se falavam diariamente. Por isso ela começou a desconfiar quando começou a receber mensagens incomuns de Jefferson, quando tentou falar com ele após o dia 23 de janeiro, quando ele foi morto. “Percebi que as mensagens não eram do meu filho, pois ele escrevia muito bem e as expressões postadas nas mensagens eram com termos que meu filho não usava”, disse.
Maria das Dores também falou das transferências de dinheiro que fez a pedido do filho, que explicou que seriam destinadas ao Bruno que o estava ajudando a conseguir encaixa-lo no elenco de uma novela na TV Globo.
Ao final do seu depoimento ela fez um desabafo contra o acusado Bruno
“Eu quero que ele diga a verdade para mim, na minha cara! É o mínimo que ele pode fazer. É contar a verdade. Por que matou o Jefferson? Eu preciso disso para limpar a minha alma. Eu sei que vou escutar isso desse monstro!”.
Terceiro e último a depor, o irmão de Jefferson, Diego também disse que se comunicava com o irmão diariamente, pelo telefone, mensagens de áudio ou vídeo. Disse que, quando começou a desconfiar que as mensagens recebidas não eram do irmão, mandou uma postagem para o celular dele afirmando que se ele não ligasse, entraria em contato com a polícia.
“Imediatamente, após essa mensagem, o Bruno, com quem eu nunca tinha falado, me ligou. Disse que meu irmão tinha viajado para São Paulo e que não tinha dado mais notícias. Daí, já achando estranho, eu combinei com o Bruno de vir ao Rio e combinei de encontra-lo para irmos à casa do meu irmão”, disse.
Diego revelou, também, que, ao chegar na casa do irmão, achou estranha a forma como Bruno se referia ao irmão, sempre utilizando o tempo verbal no passado, como se ele já não estivesse mais vivo.
“Além disso, encontrei a casa toda revirada, senti falta de alguns pertences do meu irmão, como notebook, celular, TV, e me pareceu muito claro que o Jefferson não tinha viajado para São Paulo, como o Bruno informou. As malas, toalha, escova de dentes do meu irmão estavam na casa, demonstrando que alguma coisa tinha acontecido”.
Inquérito concluído
A Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu o inquérito da investigação sobre o assassinato do ator Jefferson Machado e indiciou os dois principais suspeitos por homicídio triplamente qualificado. Bruno de Souza Rodrigues e Jeander Vinicius da Silva Braga já estão presos. Um terceiro homem foi indiciado no mesmo inquérito por maus-tratos a animais.
Além de homicídio – com as qualificadoras de motivo fútil, asfixia e impossibilidade de defesa da vítima –, Bruno irá responder por outros sete crimes: ocultação de cadáver, estelionato e tentativa de estelionato, furto, invasão de dispositivo informático, maus-tratos a animais e falsa identidade.
Jeander, por sua vez, responde pelo homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e maus-tratos a animais.
Entenda mais a fundo o caso
Segundo investigação da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), Jeff Machado foi morto em 23 de janeiro. O ator foi dopado, asfixiado e estrangulado com um fio de telefone. Depois, o corpo foi colocado em um baú que pertencia à própria vítima, enterrado e concretado nos fundos de um imóvel no bairro Campo Grande, na zona oeste.
A casa, de acordo com a investigação, havia sido alugada por Bruno no mês anterior com o único propósito de esconder o corpo.
O inquérito da DDPA apontou que Bruno se dizia produtor de uma emissora de televisão e prometeu um papel em uma novela a Jeff Machado. O ator realizou diversos pagamentos, que somaram R$ 25 mil. Quando o acusado percebeu que não conseguiria manter a farsa, decidiu matar Jeff Machado.
Depois de assassinar o artista, Bruno ainda tentou vender o carro de Jeff e gastou cerca de R$ 7 mil em compras com os cartões da vítima. Ele e Jeander também são acusados de furtar telefones, notebook, jaquetas de couro e uma televisão do ator.
A investigação apontou ainda que Jeander foi o responsável por transportar o corpo de Jeff Machado até o imóvel alugado. O acusado também teria sido o responsável por abrir o buraco onde posteriormente foi concretado o baú com a vítima.
Após o assassinato de Jeff Machado, oito cachorros que pertenciam ao ator foram levados a um centro espírita no bairro Palmares, também na zona oeste. De acordo com a polícia, eles foram submetidos a maus-tratos físicos e psicológicos. Depois, foram abandonados na rua.
Por causa disso, o responsável pelo local foi indiciado pelo crime de maus-tratos a animais. Ele não teve o nome revelado.