
Com apoio da Unesc, Extremo Sul do Estado pode se tornar referência em Santa Catarina
Grandes nomes da história mundial sempre trouxeram o planejamento como uma das premissas básicas para se alcançar o sucesso. Como dizia Thomas Edison: “boa sorte é quando a oportunidade encontra o planejamento”. Autor de invenções que mudaram o mundo, como a lâmpada incandescente, ele é considerado, ainda hoje, um dos maiores empreendedores da história dos Estados Unidos da América. Um de seus segredos era sempre planejar os próximos passos. As falhas poderiam surgir, mas eram passíveis de correção.
Assim como Thomas Edison, Peter Drucker, considerado pai da administração ou gestão moderna, batia na tecla que planejamento é a base de tudo. Drucker eternizou frases importantes e que viraram mantras para muitos empresários bem-sucedidos. Para ele o “planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com um futuro de decisões presentes”.
Pensando fora da caixa
Como queremos estar daqui a dez anos e como chegar até lá? Esses questionamentos passaram a fazer parte do dia a dia das cidades da Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense, a Amesc. Para não deixar perguntas sem respostas, essas cidades se uniram a um time de especialistas da Universidade do Extremo Sul Catarinense, a Unesc, e profissionais do Sebrae. Uma aliança estratégica analisando o presente e projetando o futuro.
A pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Proplan), da Unesc, Gisele Silveira Coelho Lopes, explica a importância do Plano de Desenvolvimento Socioeconômico da Amesc para ações assertivas e formação de regiões mais sustentáveis. “Esses 15 municípios e outros tantos que tiverem a oportunidade de ter essa ferramenta de trabalho nas mãos estarão se diferenciando dos demais na busca por excelência. Estamos em um momento em que a pauta do desenvolvimento sustentável tem sido muito solicitada na agenda internacional, sendo assim, os 15 municípios da Amesc estão na vanguarda dessa grande tendência que é o pensar em cidades cada vez mais sustentáveis”.
Nesse processo a experiência dita o norte para que a determinação seja eficaz e assertiva. Um trabalho feito por muitas cabeças pensantes, onde nada se descarta, mas sim se aperfeiçoa em prol de um bem comum. “A Unesc, nos seus 54 anos, construiu, por meio do seu Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e Inovação, uma metodologia própria, que valoriza a opinião e a participação das forças vivas da região que estamos desenvolvendo o planejamento. Entendemos que o processo de planejamento não pode ser de salas fechadas, onde duas ou três pessoas desenvolvem uma discussão que não representa, na maioria das vezes, as pessoas que moram naquele local e que vivem aquele lugar. Por conta disso, a universidade, por ser comunitária, desenvolve uma metodologia que valoriza a ampla participação das pessoas que moram nos municípios. Essa escolha metodológica tem provocado um alto engajamento, um grande envolvimento do poder público, do setor produtivo, das associações de classe, das entidades representativas, dos conselhos, ou seja, de toda a sociedade, pois se enxergam no processo de diálogo e também de definição daquilo que é importante para a região”, enfatiza a pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional.
De acordo do Gisele o formato escolhido para delinear os trabalhos faz toda a diferença. “Não posso deixar de registrar que quando se escolhe uma metodologia dessas, há um alto envolvimento por parte da equipe técnica para a análise dos dados de forma meticulosa, detalhada, que significa enxergar nas entrelinhas os projetos estruturantes e aqueles representativos, que vão colocar cada município dentro de uma perspectiva de projetos que farão com que essa região seja cada vez mais diferenciada. Não basta pensar em desenvolver uma região com base em projetos que sejam balizados pela mera intuição das pessoas que ocupam seus lugares de gestão. Nós acreditamos que uma região se desenvolve quando ela tem a disponibilidade de escutar as pessoas nos seus diferentes lugares e cada qual apresentar aquilo que enxerga como prioritário para que a região se torne o lugar onde elas queiram ficar e estar nos próximos anos”.
Ainda em processo de elaboração, o Plano de Desenvolvimento Socioeconômico da Amesc já é encarado como um divisor de águas pelos setores produtivos da região. “O Plano de Desenvolvimento Regional e também de cada um dos 15 municípios aqui da Amesc é de suma importância para entendermos as potencialidades e, principalmente, para pensarmos em médio e longo prazo o desenvolvimento social e econômico da nossa região. Nós empresários estamos acostumados a fazer o planejamento das nossas empresas, tanto a curto, médio e longo prazo e sempre cobramos que isso também fosse feito pelo poder público. Por isso, parabenizamos os prefeitos das 15 cidades aqui do Vale do Araranguá por toparem trabalhar para esse desenvolvimento. Também parabenizamos o Sebrae a e Unesc, que desenvolveram esse plano com uma metodologia muito bem fundamentada”, aponta Alberto Sasso de Sá, presidente da Aciva, Associação Empresarial de Vale do Araranguá.
Sasso afirma ainda que o engajamento vem sendo um grande diferencial. “Trouxeram a sociedade para discutir junto e isso foi um trabalho muito bem feito. É importante prepararmos nossa região para o crescimento. Nossas cidades precisam ter projetos que visem, cinco, dez, vinte, trinta anos, não somente um projeto de um mandato, mas a longo prazo também. Nosso próximo desafio é colocar esse plano em ação, trabalhando em conjunto, buscando parcerias e termos a ciência que, independente de quem venha administrar nossas cidades, essas pessoas saibam que existe algo concreto, planejado e que foi desenvolvido, tanto por técnicos da Unesc e do Sebrae, como também pela sociedade. Todos têm muito a ganhar com isso”.
A visão dos gestores
Uma parceria em que o público e o privado andam juntos e a comunicação se torna inteligível. Todos falando a mesma língua. Segundo Evandro Scaini, prefeito de Balneário Arroio do Silva, um processo que pode ser chamado de ganha-ganha. “As informações, os números, a sequência, os objetivos traçados, a discussão com a comunidade, tudo isso demonstra a importância desse planejamento. Com isso, conseguiremos traçar as metas para os próximos 10 anos. Agradecemos muito a Unesc por essa parceria. Esse plano vai nos orientar, como disse antes, nos próximos 10 anos no desenvolvimento do turismo, no desenvolvimento econômico, no desenvolvimento sustentável, no planejamento urbano da cidade, na mobilidade urbana, então tudo isso, vai estar no nosso plano, que está em fase de finalização. O município se sente muito grato em ter participado desse projeto que vai nos dar todas as orientações para que possamos traçar os objetivos e o desenvolvimento do nosso município”.
Para o prefeito de Araranguá, Cesar Cesa, conhecer os potenciais dos municípios e compartilhar esse conhecimento é uma fórmula garantida para o sucesso regional. “Acho esse plano de extrema importância por muitas razões. As potencialidades de cada município, seja ele agrícola, mais industrial, mais voltado para o turismo, educação, enfim, é de conhecimento de cada cidadão ou prefeito e prefeita da cidade e precisa ser compartilhado. Quando você envolve ou proporciona a união dos municípios, consegue coisas importantes. Essa troca de informações faz com que todos nós possamos crescer em harmonia. Não adianta apenas uma cidade se destacar; todas têm que ser destaque na região. Nós estamos no Extremo Sul de Santa Catarina que é composto por 15 municípios. Essa união vai nos fortalecer, principalmente depois da implantação do Geoparque (Praia Grande), do aproveitamento das potencialidades turísticas que nós temos, principalmente a cidade de Araranguá, com o Morro dos Conventos, Ilhas e Barra Velha, com um rio que troca três cores, com a força do nosso comércio e da nossa indústria. Isso é de conhecimento nosso, de Araranguá, mas têm potencialidades em todos os municípios, e essa união, como diz o velho ditado, vai fazer a força”.
A teoria sendo colocada em prática
Até esse ponto dos trabalhos, muitos anos de estudo e pesquisa foram realizados por profissionais da Unesc, para criar uma metodologia que tornasse possível atingir os objetivos com escolhas colegiadas. Melissa Watanabe, coordenadora do Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e Inovação da Unesc, explica um pouco mais todo o processo e os benefícios que podem surgir. “Cada plano municipal, assim como o plano geral, é direcionador e potencializa políticas públicas. O planejamento faz com que haja um poder de persuasão por parte do poder público para a captação de recursos mais adequados e aderentes às necessidades que aquele município apresenta. Seja a partir da infraestrutura ou direcionado ao que a população deseja. Então o fizemos em etapas. Já tínhamos a expertise a partir do plano de desenvolvimento da Amrec (Associação dos Municípios da Região Carbonífera), que fizemos em 2020, e nesse ano de 2022 estamos rodando a Amesc e a diferença é que estamos fazendo também os planos municipais. Em um primeiro momento fizemos um lançamento desse plano, quando convidamos as pessoas e atores interessados, como prefeitura, câmaras comerciais, câmaras legislativas, enfim, para estarem conosco, porque a partir daí a gente faz o engajamento, mostrando a ideia do plano e os passos que ocorrerão ao longo do trajeto, da trilha da produção desse plano. Feito isso, a gente fez o primeiro workshop, que realizamos de forma online e com isso capturamos a percepção dessas pessoas, traçando os desafios, potencialidades e sonhos que aquele município apresenta. Quais os desafios atuais, o que ele tem de potencial que pode melhorar ou ampliar e o que a população realmente deseja até 2033? Feito isso nós voltamos para laboratório e decupamos essas informações junto com a consulta pública que é feita através de um formulário com esses três itens (desafios, potencialidades e sonhos). Esse formulário fica aberto até a hora da sistematização dos dados. Pegamos todas as informações que foram captadas através da percepção das pessoas que participaram do workshop 1 e mais da consulta pública e sistematizamos através de um software e de um processo analítico e organizamos as informações para o segundo workshop que ocorreu de forma presencial em cada um dos municípios. Nesse segundo workshop trouxemos mais informações referente a setores e atividade econômica do município e os resultados dessa percepção, advindos desses dados, que chamamos de dados qualitativos”.
Melissa também ressalta o trabalho realizado em grupos escolhidos de acordo com perfil de atuação de seus integrantes. “Nós separamos as pessoas em grupos por áreas de interesse. Então unimos o pessoal que é mais ligado ao turismo, aqueles ligados à gestão pública, o pessoal da indústria, serviço, comércio, enfim, que estejam no mesmo setor. Eles discutem ações efetivas de curto, médio e longo prazo. Esses grupos pontuam e ranqueiam a importância dessas informações. Feito isso, retornamos ao laboratório, sistematizamos essas informações juntamente com os dados qualitativos que a gente já tinha e a partir daí conseguimos traçar uma visão de futuro para o município, os objetivos estratégicos e os planos de ação para isso. Depois desse processo, levamos à prefeitura para a validação da gestão pública. Após a validação teremos um material escrito e completo que usamos na apresentação final e na entrega aos municípios”.
Watanabe enfatiza porque o processo gera resultados tão positivos. “O nosso diferencial é a abertura para a população, para a busca dessas informações qualitativas, democratizando e dando poder de fala às pessoas e nós realizamos a escuta dessas informações consideradas importantes para o município e isso vai dar o que a gente chama de projetos icônicos, os projetos de futuro, que é o que a população deseja para aquela região, principalmente para aquele município. Outro diferencial nosso é toda a expertise que a universidade nos proporciona, enquanto doutores na área, para podermos ter um olhar analítico sobre os dados. Então toda uma parte quantitativa que é feita a partir de modelos econométricos, toda a parte analítica dos dados qualitativos através de embasamento de software e teórico para organização também dessas informações com base nos conteúdos que são apresentados para nós e também a isenção. Nós somos técnicos, estamos dentro de uma universidade formando um corpo técnico que vai mostrar o que efetivamente a população mostrou. É um trabalho muito transparente e com uma metodologia muito clara”.
Por fim Melissa conclui: “O que esperamos desses planos? Eles irão propiciar um poder de persuasão pela gestão pública e também para que a população cobre dos gestores ações estratégicas que foram mostradas no plano. Captação de recursos, projetos específicos, para dar infraestrutura para uma determinada proposta, através de um embasamento do que conseguimos capitanear dentro desses planos. É uma função muito importante que não é apenas de cunho político. O gestor público vai até outras instâncias, estadual e federal, solicitar o recurso, mas dessa vez com embasamento. Ele tem em mãos esse documento mostrando a importância que um recurso específico para determinada área vai trazer para o desenvolvimento do município”.
Também coordenador do Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e Inovação da Unesc, Thiago Rocha Fabris, ressalta que um documento muito bem elaborado fica à disposição dos gestores públicos e também da população que pode acompanhar e cobrar a execução das metas. “Estamos delimitando a visão de futuro de cada um desses municípios, linkando com os grandes objetivos estratégicos de cada uma dessas cidades, elaborando assim os projetos estratégicos para o desenvolvimento de cada um desses 15 municípios. São definidos também metas e prazos para cada um desses projetos. Então ao final desse processo teremos isso registrado, através de um mapa de oportunidades. Um livro, podemos entender dessa forma, que seria uma porta de apresentação para essas cidades e que ajuda a fazer a captação de recursos como um todo. Essas informações ficam disponíveis no site do observatório para que a sociedade consiga acompanhar e cobrar de cada um desses responsáveis que vão estar à frente desses projetos estratégicos”.
Outra instituição fundamental na construção do Plano de Desenvolvimento Socioeconômico da Amesc é o Sebrae de Santa Catarina. “O Sebrae já fez a entrega do plano de desenvolvimento aos prefeitos numa reunião da Amesc. Nós realizamos o plano regional com todos os potenciais a serem trabalhados e apresentamos uma proposta para contribuir com a implantação deste plano na região. Aguardamos a resposta do colegiado de prefeitos para atuarmos nas áreas primordiais do desenvolvimento da Amesc. O plano poderá ser acessado por qualquer pessoa que tenha interesse”, explica Murilo Gelosa, gerente Regional Sul do Sebrae de Santa Catarina.
De olho no futuro, gestores e moradores dos municípios da Amesc deram um grande passo rumo aos objetivos traçados de forma coletiva. Essa união de experiências e conhecimentos irá pavimentar as conquistas que vão garantir um desenvolvimento sustentável dessas regiões. Como dizia Bill Gates: “Se você quer chegar onde a maioria não chega, faça o que a maioria não faz”. Ou seja, planeje bem hoje para não se arrepender amanhã. “Temos a certeza que um projeto dessa dimensão tem uma alta complexidade, porque a gente precisa olhar para os dados secundários, que são aqueles dados que estão na base, que apresentam os indicadores da série histórica, que tratam do desempenho da região, mas também a importância de combinar esses dados com aqueles que são pesquisados juntos as pessoas que participam em todo o processo. Estamos muito felizes com essa oportunidade de estar de mãos dadas com cada município para construir projetos que tenham ampla representatividade e que coloquem essa região no radar nacional e internacional como uma região que as pessoas venham visitar e ter as diferentes experiências, a partir, não só das riquezas locais, mas também das oportunidades oferecidas para melhorar as condições de vida das pessoas que moram nessa região. Somos gratos pelo apoio de todos os municípios em abrirem as portas para a universidade e também de todas as pessoas que moram ali e que estão conosco nessa caminhada. A expectativa é que possamos entregar os 15 planos municipais e o regional em dezembro de 2022 e em 2023 iniciarmos, juntamente com toda a região, a governança que é a implantação desses projetos”, conclui Gisele Silveira Coelho Lopes, pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Proplan), da Unesc.