Geral Conheça a história do “Buraco quente” e a busca por transforar em uma comunidade quilombola

Conheça a história do “Buraco quente” e a busca por transforar em uma comunidade quilombola

05/08/2025 - 10h21

Em entrevista à Rádio Araranguá, representantes da Associação dos Remanescentes do Quilombo Maria Rosalina falaram sobre os desafios e conquistas da comunidade localizada na Vila Samaria, conhecida popularmente como “Buraco Quente”. A conversa teve a participação de Custódia Anacleto, presidente da Associação, Luciana Mina, coordenadora da escola de educação quilombola da comunidade, e Ozair da Silva, assessor jurídico da entidade.

Um dos pontos abordados foi a luta pela valorização do nome oficial da comunidade, que carrega o nome de Maria Rosalina. “O apelido Buraco Quente, associado historicamente à violência, é um estigma que os moradores tentam superar com ações de educação, cultura e cidadania”, disse Ozair.

Reconhecimento e direito à terra

A comunidade quilombola Maria Rosalina foi reconhecida oficialmente em 2023, após a publicação de uma portaria que garante o direito à propriedade das terras às comunidades remanescentes de quilombo, conforme previsto no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição de 1988.

“Essas famílias vieram do Rio Grande do Sul, trabalharam aqui e receberam um pedaço de terra. A cidade cresceu ao redor da comunidade. Agora, o Incra fará o levantamento das áreas e depois a demarcação das terras que serão definitivamente da comunidade quilombola”, explicou Ozair da Silva.

Luciana Mina complementa, destacando o vínculo ancestral e familiar entre os moradores. “A ancestralidade é o que identifica como quilombolas. A maioria das famílias descende dos primeiros moradores, e esse direito precisa ser respeitado para todos”.

Educação como ferramenta de transformação

A comunidade desenvolve um projeto de educação quilombola desde 2009. A partir de 2014, passou a contar com o apoio do Governo Estadual, oferecendo educação da alfabetização ao ensino médio. Atualmente, são 68 alunos matriculados e 22 professores, sendo sete turmas atendidas na sede conquistada com muita luta pelos moradores.

“Hoje atendemos 53 crianças na própria comunidade. Antes, o ensino era feito em outros locais. Conseguir uma sede aqui foi uma conquista enorme. A educação é o nosso caminho para transformar vidas e oferecer uma alternativa às dificuldades do entorno”, destacou Luciana.

Desafios estruturais e de segurança

Apesar das conquistas, a comunidade enfrenta problemas graves de infraestrutura e segurança. A ausência de saneamento básico, ruas intransitáveis em dias de chuva e a vulnerabilidade à violência ainda são realidades.

Luciana pediu auxílio para manter a comunidade organizada. “Nosso trabalho tenta resgatar as crianças e dar dignidade aos moradores. Falta esgoto, falta segurança. Precisamos de mais presença do poder público”.

Segundo Ozair, o SAMAE informou que o projeto de saneamento básico da comunidade já está pronto e deve seguir para licitação em breve, prevendo a ligação com a rede da Rua Amaro José Pereira. Ainda assim, há apelos por mais ações de segurança.

“Queremos que a segurança pública vá além da repressão. Precisamos de iniciativas como o Proerd, uma polícia comunitária, rede de vizinhos, câmeras, iluminação. Não podemos aceitar o abandono. Precisamos de diálogo com os órgãos públicos”, reforçou o assessor jurídico.

Ozair adiantou que irão buscar ajuda do legislativo de Araranguá. “É muito complicado. A comunidade precisa de apoio, mas infelizmente é justamente de quem mais deveríamos contar que menos recebemos ajuda. Hoje vamos entregar um oficio na Câmara de Vereadores de Araranguá. Já conversei com o presidente da Câmara, o vereador Paulinho, para a gente buscar esse reconhecimento”, concluiu Ozair.