Segurança Registros de violência contra a mulher em Araranguá já ultrapassam números do ano passado

Registros de violência contra a mulher em Araranguá já ultrapassam números do ano passado

08/11/2023 - 16h29

Manchas roxas, silêncio repentino, olhar cabisbaixo, podem significar um pedido de socorro, sufocado pela violência. Não são poucas as mulheres que sofrem ou já sofreram algum tipo de abuso, seja ele físico, psicológico, moral, sexual ou patrimonial. Só este ano, 1.036 mulheres procuraram ajuda da Polícia Civil de Araranguá, vítimas dos companheiros, maridos e namorados.

A maioria dos casos registrados na cidade são ameaças, mas a quantidade assusta, segundo Eliane Chaves, responsável pela Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) de Araranguá. Na sequência, vem a lesão corporal, a injúria e vias de fato. “Para uma cidade com 70 mil habitantes como essa, poderia ser mais tranquila”, analisa.

Levando em conta o número da população, o município detém um alto índice de violência contra à mulher. Isso se reflete em números. “Em 2023, já realizamos a solicitação de 172 medidas protetivas. Em relação a violência doméstica, já chegamos à marca de 1.036 boletins de ocorrência. Esses registros englobam todos os tipos de crimes, desde ameaça, lesão corporal, estupro e todos os casos que envolvem violência contra à mulher. Em 2022, nesse mesmo período, foram 1.009 casos, o que mostra uma crescente de lá para cá”, ressalta.

Mesmo quem registra o boletim de ocorrência, e conquista a medida protetiva, não possui nenhuma garantia de segurança. Isso porque muitos agressores descumprem a determinação judicial. “Nesse ano, já registramos 62 medidas não cumpridas. Em 2022, o número é inferior, chegando a 56”. 

Violência nem sempre é física, e às vezes, vem de quem menos se espera

A delegada ressalta que a violência contra a mulher não é inserida apenas na agressão física, mas abrange outras áreas. “A violência física é apenas uma das modalidades de violência. Existe a violência psicológica, moral, sexual e patrimonial. Em muitas vezes, as mulheres não se dão conta que estão sendo vítimas de violência, porque não chega à agressão física”, detalha.

Sobre o último grau, que é o feminicídio, Eliane relata que o crime vem de quem menos se espera, do companheiro. Com isso, neste ano, Araranguá registrou duas mortes de mulheres, vítimas de violência.

Dados SC

Segundo o estudo realizado pelo Observatório da Violência Contra à Mulher, em 2023 foram 21.032 medidas protetivas requeridas entre janeiro e setembro, com 43 feminicídios registrados em Santa Catarina.

“Quando se fala em feminicídio que é o último grau, se tem o ciclo da violência, que é a fase de tensão, explosão e depois volta para a lua de mel. Esse ciclo passa a acontecer sucessivamente, mas a cada fase de tensão, a violência se agrava mais. A depender da situação, até mesmo o silêncio de desprezo pode se caracterizar uma violência. O maior número dessas agressões vem do próprio companheiro ou ex-companheiro”.

A delegada acrescenta que 70% dos casos de feminicídio no estado não tem registros de ocorrência anterior. Ou seja, a vítima nunca havia denunciado, mesmo já sofrendo violência. “Nunca é do nada, a maioria dos casos, a vítima sofre por um período, o problema é que não denuncia, chegando a esse ponto”.

Em caso de violência, procure ajuda

De acordo com a delegada, o primeiro passo é registrar boletim de ocorrência e pedir uma medida protetiva, que pode ajudar a cessar a violência. Caso o agressor não respeite a ordem judicial, ele pode ser preso. Além disso, um inquérito policial pode ser instaurado, dependendo da gravidade do crime. Isso levará o caso ao fórum, onde o agressor pode enfrentar consequências legais. “É fundamental que as vítimas saibam que têm recursos legais para buscar justiça e proteção contra a violência doméstica”, explica a delegada.

Espaço ideal e estruturado

Quando Eliane chegou a Araranguá, não havia uma DPCAMI estruturada como se tem hoje. Na nova sede, as vítimas tem à disposição um local mais adequado. “Conseguimos receber essas mulheres com muito mais conforto. Temos uma brinquedoteca, cômodo onde as vítimas podem deixar suas crianças, enquanto prestam depoimento. A OAB também tem um espaço dentro da delegacia para receber essas pessoas. Na antiga sede não tínhamos esse suporte”.

Grupos reflexivos em Araranguá

Um projeto piloto que tratará de grupos reflexivos, para homens autores de violência doméstica e familiar, está sendo elaborado na comarca de Araranguá. O projeto é do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), de pode servir de modelo para ser aplicado em outras cidades.

O programa do TJSC prevê uma abordagem a homens, que de alguma forma, cometeram violência contra à mulher. A partir daí, eles serão encaminhados pelo juízo para participar de 10 encontros em que haverá debates, conversas e reflexões sobre temas que envolvem e percorrem a violência de gênero. Até o momento, o projeto se encontra em processo de implantação, sem data para iniciar na cidade.

Localização da DPCAMI em Araranguá

Em Araranguá, a DPCAMI fica localizada na rua Caetano Lummertz, número 1228, no bairro Urussanguinha. A unidade inicia seus trabalhos das 12h às 19:00, de segunda à sexta-feira. Para entrar em contato, o telefone é o (48) 3529-0180.

Violência contra a mulher em Araranguá:

AnoRegistros
2019609
2020824
2021958
20221.009
20231.036

Fonte: DPCAMI Araranguá.