
“A menina foi deixada amarrada e vendada, em uma estrada do RS”, afirma delegado sobre sequestro em Criciúma
Após trabalho intenso da segurança pública de Santa Catarina, chegou ao fim ontem o sequestro da menina de 11 anos, filha de um empresário de Criciúma. Ela foi levada pelos bandidos quando chegava em casa com o pai do jogo do Criciúma. O crime aconteceu no bairro Pio Corrêa.
Em operação conjunta com as forças de segurança do Estado, a Polícia Civil apresentou detalhes sobre o resgate, em coletiva de imprensa que aconteceu nesta quinta-feira, 24. De acordo com o delegado titular da Divisão de Roubos e Antissequestro (DRAS), e da Diretoria de Investigações Criminais, Anselmo Cruz, toda a ação foi muito complexa, visto que a operação foi realizada com duas frentes de atuação diferentes. “Nós tínhamos protocolos rígidos com relação a um objetivo, a preservação da vida de quem estava sendo mantida refém. Nessa operação trabalhamos com duas frentes de atuação diferentes, a primeira é de preservar a vida. Diante disso, existe toda uma frente de trabalho que envolve negociações, buscas e localização para o resgate. Essa é a parte do gerenciamento de crise”.
“Paralelamente a isso, temos o trabalho tradicional de investigação, o qual busca identificar e localizar quem está cometendo o crime, para que possa responder criminalmente. Só isso já torna a operação mais complexa, porque temos duas frentes diferentes de trabalho. Ontem ao longo de todo o dia, o nosso trabalho quanto a não divulgação, ao envolvimento de unidades policiais e aos esforços que estavam sendo realizados, uma vez divulgados, acabavam piorando o risco de vida de quem estava sendo refém”, completou o delegado.
Anselmo ainda explica detalhes de como a refém estava sendo tratada e como a operação foi desenhada pelas forças de segurança. “A menina que foi mantida refém não foi levada para um local em específico. A criança foi mantida amarrada e amordaçada ao longo de 24h, dentro de porta malas de automóveis. Além disso, estava sem se alimentar e teve duas paradas, onde sem saber onde estava, pode fazer suas necessidades. Com isso, nossa operação iniciou-se quando fomos acionados e a partir daí, começou um trabalho na parte de negociação e paralelamente as investigações. As equipes mobilizadas passaram a realizar um trabalho silencioso, onde nem a família da vítima e nem a cúpula da segurança pública vê”.
Planejamento
“Foi percebido desde o início que houve a ação montada para que essa menina fosse sequestrada. Os autores do crime previamente trancaram o portão da residência, com uma corrente e um cadeado, para que quando o pai da menina estivesse chegando em casa com ela, não pudesse entrar. Com isso, foram abordados por cinco criminosos em dois veículos, que realizaram o sequestro. Por volta das 6h da manhã, foi feito o primeiro contato por uma rede social, com o pai da menina, enviando a fotografia de uma carta e fazendo inúmeras exigências, além de um pagamento superior a R$ 11 milhões com prazo de 72h. O que temos até o momento em relação ao crime, é que a ação foi voltada a conseguir dinheiro. Passamos a realizar buscas de informações em conjunto com a DIC de Criciúma, de forma silenciosa”, acrescentou Anselmo.

Movimentações
O delegado ressalta que por conta da operação em sigilo, houve uma movimentação que os criminosos não pretendiam fazer e com isso, o objetivo da polícia foi alcançado, a recuperação da refém. “Por conta dessa veiculação que nossa operação realizou, os criminosos passaram a traçar rotas que não estavam programadas. Passaram a passar por inúmeros locais e a mudar de cidades, chegando até sair do Estado. Por conta dessa situação, houve o contato da polícia com um advogado criminalista que teria uma interlocução com os autores, no sentido de colaborar com a localização. A partir disso, passamos a monitorar e permitir a colaboração do advogado. Por fim, foi alcançado o êxito na operação, quando a menina foi deixada amarrada e vendada, em uma estrada do Rio Grande do Sul, na cidade de Três Cachoeiras, aproximadamente 40 quilômetros da divisa com Santa Catarina”.
Integridade física da refém
Anselmo ainda explica como estava a menina e sua integridade física quando resgatada. “Ela não sofreu agressões físicas, tinha apenas marcas relacionadas a fita lacre, na qual foi amarrada tanto nos pés quanto nas mãos, mas não houve violência física. Enquanto estava sendo mantida refém, relata que chegou a ter sofrido ameaça de morte. Vale ressaltar que a menina possuí uma grande maturidade e nos surpreendeu no quesito de que muitos adultos em situações semelhantes, demostravam um comportamento diferente. A primeiro momento ela foi atendida pela equipe médica e então trazida para casa em Criciúma”.
Andamento das investigações
Sobre o andamento das investigações, o delegado dá detalhes de como a Polícia Civil está atuando. “Um dos autores que foi apreendido tem 22 anos de idade e possui antecedentes por tráfico de drogas. Teve ligação direta com o crime, porém não sabia e não tinha informações com relação a localização da refém ou o destino dela. Acontece muito nesses casos, onde esses criminosos são contratados para realizar diferentes trabalhos, onde sabem apenas a sua atuação e não o desenrolar todo do crime. Além disso, a polícia segue trabalhando na investigação, a princípio notamos que essa situação foi mais regionalizada, mas estamos estudando as motivações do crime. Temos outras pessoas identificadas, mas o trabalho não basta identificar, não estamos mais em uma situação de flagrante. Temos a burocracia com relação a apurar e indiciar e responsabilizar essas pessoas. Foi identificado participação de cinco pessoas na ação do sequestro, não é descartado a possibilidade de ter mais pessoas, mas isso as investigações vão mostrar mais adiante”.